sexta-feira, 25 de dezembro de 2015

Resistência

Negro Canto


Morreu Dalma a rolinha
Bateu na janela fechada
Que lá não tinha.

Não estava lá sempre fechada,
Mas foi o susto ao ver a indesejada
Passar na sua revoada de liberdade.

A rolinha nunca foi canora
ou não se quis ouvir o canto.
Prende-la? Pouco importa,
deixa o sangue rubrar o recanto.

E Dalma, a rolinha?
Fica morta? Estirada?
Não! É enterrada na árvore
vizinha da janela que lá não tinha.

Minha terra tem palmeiras
onde Dalma não cantou.
Minha Dalma não cantou
na terra das palmeiras;

As aves não gorjeiam
E nem vão gorjear
enquanto Dalma ficar
enterrada sem um canto.

sexta-feira, 11 de dezembro de 2015

Espírito x carne

Da pouca alegria que lhe resta
o espírito nada consegue,
de nada a alegria lhe presta
até que sua imaturidade o cegue

Com seu monótono dia-a-dia
aos poucos sua vida se esvai,
e sem o mínimo de melodia
a sua covardia o atrai

Sua eterna luta continua
contra a sonhada vontade carnal,
e mesmo na sua bravura crua
suas forças já chegam ao final

Da muita alegria que lhe sobra
a sonhada carne nada consegue,
de nada a alegria lhe prova
até que sua timidez se entregue

Com seu agitado dia-a-dia
aos muitos seu corpo se cansa,
e com o máximo de ousadia
a sua valentia a amansa.


sexta-feira, 4 de dezembro de 2015

O infiél

Aqui se esvai sua lealdade
junto com sua pureza imoral,
lá permanece sua castidade
implorando seu perdão afinal

Aqui o infiél se põe a adulterar
e também ignorar, outrora
lá o infiél chora, mas ora
não existe um preço a pagar?

Aqui o menino vive a realidade
pragmática e desgraçada,
lá o menino sonha com bondade
e venera sua fonte amada

A vida continua medonha
entre risos e choros inclusive,
pois aqui o menino vive,
mas já lá, o menino sonha.


sexta-feira, 27 de novembro de 2015

Sem-Nome Nº 1

Caço no espelho,
o mover do olhos.
Procuro seu fugir
no quadro que formo.

Qual será a real forma,
a superfície do que reflete.
longe do refletido e suas ilusões.

Se em frente a um igual,
brinca com o truque,
redobra o redobro do nada
morre no infinito com fundo.

Posto em fronte minha ,
Reflete, edifica seu mundo.
Longe dos olhos é opaco,
fosco e sem mim.

Talvez a face do espelho,
seja os olhos que o fitam,
pois refletem com os espelhos
que nestes habitam.




sexta-feira, 20 de novembro de 2015

Alune

Quando o tempo caçar
o flerte fervente,
por instantes sente
a flecha trespassar

Reduz o ponteiro
e se faz por inteiro
meu querer amar

De fato consigo
do semblante amigo
ainda turvo lembrar

Como posso sonhar
ainda nessas horas
em sentir amoras
que pimentas podiam gerar

Imagino no marco
do aperto do arco
molhado e carente
fruto do fogo ardente

do tempo divino
do Fundamental

no fundo mental..


sexta-feira, 13 de novembro de 2015

O Anelo Coibido

Do pouco prazer que sinto
Há muito desejo lhe falar
Mas mesmo sendo distinto
Não sei mais me expressar

Meus choros e agouros
Meus prantos e socorros

De sua distância só restam
Dor e agonia sem parar
Já que ideias não me faltam
Para ao seu lado eu ficar

Delicadeza majestosa
Simplicidade formosa

Lisos castanhos ao vento
Puros ébanos no olhar
Parda derme ao ostento
Leve sutileza no paladar

Foram vários os delírios
Que contigo tive feito
E estes sendo impuros
Não me fazem satisfeito

Mais uma vez me rendo
À ignorância dos amantes
Porque se dizes que: entendo
De certo estarias sofrendo.


sexta-feira, 6 de novembro de 2015

Entre

Aspas


Tudo o que toco grita.
O que é imóvel sente,
grunhe, rosna, vive.
Tudo o que é tudo
                   é bicho também.

Tudo o que é tudo
é isso e
              um pouco mais
              um muito menos
um quase tudo.

Posto sem forma
entre aspas
pra conter
                  conteúdo.